Abzû e a experiência nas profundezas oceânicas

Kaue Natan Vezentainer
8 min readApr 27, 2021

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É dessa forma que resumiria minha aventura no game Abzû, uma experiência nas profundezas do oceano. Sim, ele é um jogo de videogame, mas um pouco diferente do que estamos habituados a encontrar. Pelo menos, foi a minha sensação ao adentrar os mares durante a jogatina.

Por isso, o texto que segue é uma visão do meu sentimento e da experiência que eu tive. Isso não quer dizer que tudo aqui é certo ou errado, mas sim a visão de quem amou experimentar essa aventura. Beleza, Kaue, mas porque falar sobre Abzû? Também gostaria de dar um motivo mais elaborado, mas a única resposta que tenho é essa: deu vontade.

Antes, gostaria deresumir um pouco do que é o jogo. Abzû foi lançado no ano de 2016 para PS4, Xbox One, PC e Nintendo Switch. Ele é um game de aventura que foi desenvolvido pela Giant Squid Studios e publicado pela 505 Games. Sim, ele é de cinco anos atrás, mas a Sony disponibilizou ele de maneira gratuita na campanha “Play at Home”, com intuito de nos incentivar a se manter em casa durante a pandemia. Por isso, estou fazendo esse texto só agora. Atrasado? Sim! Mas porque não escrever?

Basicamente, não existe uma sinopse da história de Abzû. Você só sabe que controla uma personagem que nada por todo o oceano e, durante o trajeto, interage com a fauna marinha e vai descobrindo pouco a pouco os segredos por trás desta aventura.

Pois bem, eu quero me atentar mais a experiência que tive do que a minha visão sobre a história do jogo, mas ainda assim deixarei um resumo do que entendi. Afinal, acredito que a proposta do game é trazer as mais diversas teorias para dar significado a aventura. A nossa jornada começa no mar, obviamente, controlando uma personagem com trajes apropriados para nado. E ali, damos inicio ao tutorial básico dos controles.

Depois disso, é chegada a hora de explorar o mar que está a nossa volta. Não adianta procurar e tentar incorporar seu pirata interior para gritar “Terra a vista!”, afinal só tem água para todos os lados. É nesse cenário, de um azul profundo com pequenas entradas dos raios solares que a nossa viagem inicia. Olha, eu poderia descrever cada uma das fases e dos desafios que temos no caminho, mas meu intuito aqui é relembrar os momentos em que tive algum sentimento especial durante minha jogatina. Peço desculpas se, por um acaso, você esteja procurando um resumo do jogo. Não é bem meu intuito, enfim, é chegada a hora de partir, ou melhor, de nadar!

O detalhe principal, um dos mais belos, são os gráficos de Abzû. Não, eles não são realistas, mas é de uma arte delicada e tão viva que você parece estar, de verdade, dentro do oceano. Algas, peixes, cardumes, estrelas do mar e tudo mais é tão bem desenhado, tem movimentos polidos e é tão encantador que em muitos momentos eu queria parar e admirar a beleza daquele lugar. A paz e a tranquilidade são sensações que afloram nesse momento.

Uma das minhas capturas feitas durante a jogatina

É uma obra de arte. Os designs tiveram tanto cuidado em separar os ambientes, equivalentes as fases, com tantos detalhes e diferenças que você percebe que está viajando em um oceano completamente rico. Existem ambientes cheios de peixes das mais variadas cores, plantas coloridas e uma tonalidade de água tão única que é inevitável você não dar um tempinho só para poder admirar tudo aquilo.

Além disso, você encontra ambientes ricos em flora marinha que o verde está em todo lugar. Outros, a areia tem mais vida e o laranja dela está mais presente na sua tela. A variedade e a riqueza de cenários é algo sublime em Abzû e eles dão espaço até para a escuridão das profundezas oceânicas, onde só é possível se guiar com ajuda da lanterna.

O melhor desse game é que eles te incentivam a ter um momento de contemplação para tanta beleza. Caso eu quisesse meditar e observar a vida marinha acontecendo diante dos meus olhos, eu tinha total possibilidade de fazer isso. Em alguns pontos encontramos uma espécie de estátua de tubarão. Basta chegar próximo, aperta o touchpad e meditar pelo tempo que for necessário.

Um dos meus momentos de meditação

Além disso, a trilha sonora tem o ideal: se complementar aos momentos do jogo. Em um ambiente, como o mostrado na imagem acima, a trilha é tranquilo, bonita e zen. A experiência fica completa com a música certa e isso é fundamental. Um bom game tem uma boa trilha sonora, sempre! Aqui, ela é sublime pois sua intensidade, sua tonalidade e frequência vão se alternando com cada avançar em Abzû.

Muito além da riqueza marinha, o game nos delicia com a riqueza sonora e artística. Quando dizemos que jogos também são arte e, talvez, algumas pessoas discordem disso, eu peço para assistirem ou jogarem Abzû e após isso, venham conversar comigo.

Em um jogo marinho, não podemos deixar de lembrar dos peixes. E olha, acho que os biólogos marinhos ficariam felizes com as espécies que encontramos por ali. Aliás, não somente encontramos como recuperamos algumas. Isso mesmo que você leu, em alguns pontos existem uns buracos com corais em volta que devemos clicar para que assim, algumas espécies aquáticas voltem a habitar aquela área.

São peixes, tartarugas, tubarões e tantas outras coisas que eu não saberia descrever. Não sou especialista, mas reconheci e conheci tanta espécie marinha nova que atiçou ainda mais minha curiosidade para descobrir o que já conhecemos da fauna ocêanica.

Para exemplificar a riqueza de espécies presentes em Abzû

O melhor é a oportunidade de interagir com os cardumes. A gente consegue ter contato com os peixinhos e fazê-los nos seguir em determinados momentos, mas o que me trouxe mais alegria e uma sensação única foram os momentos de adentrar correntezas. Você se lembra daquela parte do filme “Procurando Nemo?” onde Dory e Marli encontram a tartaruga Crush e entram naquele “tubo” de água com uma correnteza extremamente forte? Pois então, em Abzû temos uma experiência parecida.

Somos levados até uma delas e, quando encontramos um cardume de peixes vermelhos ganhamos um impulso para acompanhar a velocidade de todo ser vivo ao nosso redor. Em um deles, finalizamos a viagem para adentrar uma nova área com um belo de um salto acompanhado das Orcas. É tão simples, mas tão bonito e que te traz uma alegria inexplicável. É uma sensação tão boa seguir aquelas correntezas e chegar ao fim dessa forma, que, para mim, foi um dos momentos mais belos do jogo.

Mas, melhor do que ele, somente o momento em que adentramos as profundezas oceânicas com as baleias azuis. A chegada dessa parte é tão sublime que, num belo jogo de câmera, ficamos lado a lado dos olhos da baleia e com passar do tempo a câmera se afasta e a personagem que controlamos fica esquecida diante da gigantesca baleia. Um momento único, prazeroso e que me lembra de como o ser humano é tão pequeno diante de certos seres vivos.

Durante o caminho encontramos algumas estruturas com pinturas nas paredes e, ao interpretar cada uma, entendemos que ali está a história do jogo. É um mistério e todos podemos fazer certa interpretação, mas acredito que ali estão os antepassados da personagem que foram responsáveis por criar o oceano, mas ele cometeram alguns erros.

E, como devolvemos espécies para certos habitats, acredito que nós fomos escolhidos para concertar os erros. Uma bela missão, comparada ao que a nossa futura geração pode, infelizmente, ter que fazer em um futuro não tão distante.

As pinturas misteriosas (Foto: Divulgação)

Em toda viagem, perseguimos o tubarão branco. Ele parece fugir de nós, mas ao mesmo tempo parece nos levar para algum lugar. No fim, eu acredito que a segunda ideia é a mais exata. Com a trilha ficando tensa, para passar o medo e a insegurança desta etapa, encontramos um conjunto de triângulos gigantes com detector de presença. Ao ficar próximos deles, eles explodem e liberam uma carga elétrica que incapacita a personagem.

Em momentos mais à frente, encontramos nosso amigo tubarão diante do controle principal dessas estruturas. Ele, simplesmente, ataca a estrutura e toma um choque em proporções gigantescas e que nos afeta. Ao acordar após uma grande queda, encontramos o gigante caído e em um último contato, ele morre nos nossos braços. Sim, é um momento extremamente triste. Por pouco contato que tivemos com esse tubarão, nós sentimos juntos a dor por perder o gigante.

Na reta final, encontramos estruturas e após resolver os puzzles, chegamos em uma das partes mais emocionantes da experiência. Ela me deixou leve e extremante feliz, cheio de algo que não consigo definir em palavras. Eu posso ter me sentido mais vivo e esperançoso do que nunca?! Talvez, mas só sei dizer que esse foi um dos momentos mais especiais durante a jogatina.

O espírito do tubarão branco volta, e ordenado por ele e ao lado de outros peixes, nos unimos para destruir as correntes que seguram espécies de bolas gigantescas que estão presas a um coral. Ao destruir todas, o coral cresce e traz a vida marinha de volta ao ambiente. Fazemos isso em diferente locais e em uma velocidade tão grande com uma trilha tão viva que é uma sensação única, estimulante e vívida.

Ao final, damos um salto gigantesco e voltamos ao fundo do mar, agora, com toda a fauna marinha de volta ao lugar de onde não deveriam ter saído. Assim, a aventura marinha de Abzû termina.

Eu sai me sentindo mais vivo, feliz e sorridente. Foi uma experiência tão gratificante, única e rica que me fez lembrar que jogos devem despertar o melhor de nós. É por isso que eu os amo e é por esse motivo que eles são tão importantes na minha vida. Abzû é belo, gostoso de jogar, alegre, triste, reflexivo, sensitivo e uma das melhores experiências que um gamer pode ter. Beleza e esperança, é isso que é Abzû!

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Kaue Natan Vezentainer

Jornalista, 26 anos. Um apaixonado por videogames, futebol e pelo mundo nerd.